Minimalismo & Capitalismo
Acaba
de ser publicado o livro Minimalismo & Capitalismo (Editora Suno), de Jean
Tosetto. O livro faz parte da coleção leituras rápidas, e está disponível em
ebook na Amazon. Jean Tosetto, arquiteto, urbanista, autor e editor de livros, analisa
nesse pequeno livro, por um ângulo pouco usual, a relação entre a filosofia Minimalista
e o Capitalismo.
De
início, o autor ressalta uma das características marcantes do capitalismo
contemporâneo: o incentivo agressivo ao consumo de bens e serviços levado a
cabo por estratégias de marketing, trazendo consigo níveis de ansiedade jamais
conhecidos antes. Enquanto muitos cedem às tentações do consumismo desenfreado,
uma parte das pessoas está adotando o Minimalismo como forma de vida, em uma
postura claramente crítica à sociedade consumista.
A
pessoa minimalista, nas palavras do autor “é adepta das práticas austeras de
consumo, priorizando os itens essenciais para a manutenção da qualidade de
vida, evitando os desperdícios de suprimentos, os modismos e a obsolescência
programada das coisas” (posição 19).
Essa
característica leva, em regra, o minimalista a livrar-se das dívidas e a poder
despender menos recursos financeiros com o que não é essencial, resultando em
maior capacidade de poupança e investimento. E é justamente aqui que o autor
levanta um interessante paradoxo: “o freio consumista, que seria uma crítica
ao Capitalismo, se esvai na medida em que o alcance da meta de independência
financeira passa por instrumentos tipicamente capitalistas, como o mercado
financeiro” (posição 26).
Após
apontar esse interessante paradoxo, o autor traça uma breve linha de exemplos
históricos, alguns bastante antigos, de ideias minimalistas, começando por
Diógenes de Sinope – O Cínico, com seu absoluto desapego pelos bens materiais,
passando pelo filósofo autodidata Ibn Tufayl, que chegou a estabelecer uma
hierarquia dos alimentos que deveriam ser consumidos e em que quantidade, de
maneira a estabelecer uma profunda relação de respeito e consumo consciente com
o meio ambiente, destacando também Ernest Hemingway “dono de uma escrita
concisa e minimalista, despida de advérbios e sentimentalismos” (posição
92), pelos ícones da Cultura Beat, como Jack Kerouac, autor do clássico “On
de road”, inspiração de parte dos movimentos de contracultura dos anos
1960. Destaca ainda o movimento FIRE, que, entre suas premissas está
reduzir ao máximo as despesas e maximizar os ganhos para, “antes dos 40 anos
de idade atingirem a independência financeira e se dedicarem a desenvolverem
experiências que lhes proporcionem uma vida mais significativa” (posição
151). Finalmente, menciona a relação que à primeira vista pode passar
despercebida, entre as chamadas políticas ESG (Environmental, Social, and
corporate Governance) e o Minimalismo, uma vez que esse conjunto de
políticas que propõem a necessidade de um desenvolvimento sustentável acaba por
favorecer a troca da forma de consumo, impulsionando o consumo de experiências
ao invés do consumo de coisas.
Depois
dessa retomada histórica, Jean Tosetto argumenta que a Pandemia catalisou a relação
entre minimalismo e capitalismo, uma vez que, incentivadas pelas restrições
impostas pela Pandemia, “a sociedade, acostumada ao conforto oferecido pelo
aquecimento da economia nos anos anteriores, descobriu que poderia viver com
menos do que estava consumindo” (posição 198).
Finalmente,
o autor conclui o livro com uma provocação interessante: qual Cinismo vamos
adotar, o de Diógenes, caracterizado pelo absoluto desapego às coisas materiais
e pela necessidade de viver segundo os princípios que prega ou o cinismo
contemporâneo, mais associado à uma vida fingida, dissimulada? De certa forma,
para lembrar a lição de Nassim Nicholas Taleb no livro “Arriscando a própria
pele”, não é bom confiarmos em quem não se arrisca ao emitir opiniões ou
pareceres, ou, em outras palavras, em quem não tem a pele em risco.
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